.
.
.

- E esse friozinho?

Cortou-lhe a cabeça com o que tinha à mão: as unhas. Ou mandou se foder, não lembro.
.
.
.

- Eu quero descobrir os mistérios da vida.
- Primeiro me dá uma bolacha.
- Hmmm. Tá, toma.
- Nham.
- E agora?
- Agora descobre os mistérios da vida.
- E no que a bolacha ajudou?
- Mistérios da vida...

OOOOMais por formalidade, Física IV é obrigatória na engenharia. É Física moderna. Einstein, esses caras que estudavam coisas que ainda não se pode ver na prática.

OOOO-Existem infinitos universos paralelos, onde acontecem todas as possíveis continuações de uma certa situação. Essa em que estamos é apenas uma delas.

OOOOIsso à uma e meia da tarde. Acabei de almoçar e fui ligeiro pegar o ônibus. Não era bem o que eu tava a fim de ouvir.

OOOO-Existem dois tipos de interferência de ondas.

OOOOEssa aula alterna coisas abstratas com coisas que já aprendemos no mínimo quatro vezes. Agora é interferência de ondas. Colégio, cursinho, Cálculo I, Física III. Quatro. Não agüentei a quinta. Levantei e saí. Não com o professor de costas, acho chato. Por isso é legal ser professor um tempo, a gente entende o outro lado. É difícil preparar uma aula para todos. Bom, eu saí.

OOOOBotar o pé no corredor é um prazer enorme quando se sai de uma aula chata. Sensação de liberdade, de "pô, então existe vida fora dessa sala", de "ah, cosa boa". Minha vó que fala "cosa" em vez de "coisa". Acho "cosa" mais bonito, mais sonoro. Eu tenho escrito o "A" maiúsculo de letra de imprensa com os lados paralelos. Isso me força a fazer um chapeuzinho nele depois, um "teto". A fonte fica diferente. Bom, é bom sair da sala.

OOOOBebi água, encontrei um conhecido, mandei mensagem no celular, recebi resposta na hora, fiquei contente, observei alguma coisa que na hora pareceu interessante mas que agora nem lembro do que se trata (fico devendo essa), resolvi voltar. Não por vontade de voltar, mas não quis demorar muito pra não ouvir "cagando, hein". É. 37 homens e só 3 mulheres na sala dá nisso.

OOOOVoltei pra sala. Entrei com o celular na mão como quem diz "Viu? Não tava cagando". Sentei no meu lugar e olhei pro quadro.

OOOO-Então teremos uma interferência de onda...

OOOOGritei:

OOOO-Ainda?!?

OOOOEm um universo paralelo, claro. Neste aqui fiquei bem quieto. Peguei papel e caneta. Comecei a escrever.

Tomás e o Poder


-Poder... - olhava fixo pro horizonte, os olhos um pouco fechados (mas nao de sono, ele forçava um pouco para que ficassem um pouco fechados).

=Poder fazer o que, Tomás?

-Poder de poder... - explicou, sem muita paciência - Ter poder.

=Ah.

-Controle! Domínio! - agora gesticulava.

=Uhum.

-Liderar, ditar as normas, ordenar os súditos! Sabe, Conrado, eu sinto um grande vazio dentro de mim, uma peça que falta pra me completar. Acho que tenho a vocação - agora já virado para o amigo.

=Faz cursinho.

-Não, Conrado! Vocação para Rei! Um Rei soberano de suas próprias terras! Senhor dos seus domínios! Dá pra parar com o palito do picolé e prestar atenção, Conrado?

=Uhum.

-Por que nao vai no mar limpar a mão? Tá toda melada de picolé de limão e areia - às vezes Tomás perdia o foco.

=Depois.

-Como eu faço pra virar Rei? Tem que ter sangue real desde que nasce?

=Difícil consertar isso agora, neh?

-Pois é. E agora?

Tomás pensa fazendo muito esforço, como se franzir a testa aumentasse o rendimento do cérebro, mas quem fala é Conrado.

=Mas o primeiro Rei não tinha sangue real.

Tomás não cabe dentro de si. Parece que os olhos vão saltar de empolgação.

-É isso! O primeiro rei não era filho de rei, assim como eu! Ele deve ter achado uma terra sem dono e ter montado seu reinado!

=Ó. Taí um jeito.

-Vamos procurar uma terra sem dono, Conrado! - Tomás apontava para longe com o indicador, braço esticado, espírito de aventura no olhar.

=Em Capão da Canoa?

-Não, Conrado. Vamos entrar no meu iate à jato e desbravar os mares a procura de uma ilha deserta... Claro que é em Capão da Canoa! - às vezes perdia a paciência com a burrice do amigo.

=Ah. E como vamos saber que achamos?

Tomás parou. Por essa ele não esperava. Como identificar uma terra sem dono?

-Sei lá. Quando tem dono ou tem placa ou tem cerca...

=Hmmm...

-Que foi?

Conrado não respondeu. Levantou-se com o palito de picolé na mão e com ele fez um círculo na areia caminhando em volta de Tomás.

=Ta aí.

-O que?

=A tua terra. Tá demarcada aí a tua terra. Não tinha placa nem cerca quando chegamos.

Tomás abriu a boca. Levantou sem mudar nada na expressão congelada em empolgação. Abriu os braços, encheu o peito e gritou bem alto:

-Este é meu reino! Salve o Rei Tomás!

Os que estavam presentes não entenderam: um siri, que parecia perdido, parecia continuar perdido. E o homem velho que acordou cedo pra correr na praia nao parecia interessado naqueles dois e continuou correndo cedo na praia.

Os dois ficaram ali um tempo. Tomás, com olhar maligno de Rei Malvado Soberano Absoluto, olhava em torno de si o seu reino, as terras onde sua lei valia, onde ele ditava o que era o bem ou o mal. Conrado pensava nas combinações possíveis do jogo da velha desenhando com o palito na areia.

-Cuida aí pra mim - disse Tomás ao levantar, passados uns minutos, indo para casa.

=Vai escrever a constituição? Contratar um exército? Procurar terras pra expandir os domínios? Definir a bandeira?

-Jogar video-game.

=Mas e o reino?

-Não quero mais.

Esses dias eu vi um bem-te-vi de fato correndo com dois pardais hhehehehe
será que eles tem internet?

Quantos tic-tacs são necessários pra dar a volta ao mundo?

1920!
Cada um da uma hora de refrescância e a volta ao mundo leva 80 dias!

Sabiás as duas da madrugada jogando conversa fora! E os outros bichos querendo dormir: os sapos, os gatos, os grilos não, mas os cachorros sim e também os homens!
O Pardal chegou pra acabar com a festa. Mostrou o Decreto dos Passarinhos que definia que dia era dia e noite era noite. Além do mais a dona Pardal tinha sono leve, e eles queriam acordar mais cedo pra pegar as melhores minhocas...

- Queremos acordar mais cedo pra pegar as melhores minhocas! - disse o Pardal
- E quem és tu pra contraria dois elegantes sabiás? - retrucaram os sabiás - Tu vens da Europa e és praga, és outra vil herança dos colonizadores.

E correram o Pardal a bicadas. Mas este não deixaria por isso mesmo. No dia seguinte foi usar toda sua influência na comunidade passarinha. Bem-te-vi, João-de-Barro, Beija-Flor e outros talvez com menos hífens aderiram à causa e foram pressionar os sabiás. Mas esses alegaram uso capião das terras de Porto Alegre e não houve o que os fizesse mudar de idéia.
Foi aí que o Papagaio, excelente argumentador, entrou na história:

-Certamente o crédito de vocês para conosco é inquestionável, pelo tempo que habitam o lugar e belos cantos que alegram a cidade, mas fazer barulho à noite, período sagrado do sono, é intolerável! Há hoje quem compare, e com razão, vocês e as POMBAS DO CENTRO! Aqueles ratos com asas que nem se que foram admitidas na nossa comunidade! É esta a proporção do mal que vocês tem nos feito.

Isso fez os sabiás encherem os rubros peitos e refletirem. Pensaram durante semanas. E continuam pensando. Espero a resposta ainda...

O M&M de amendoim tinha inveja dos seus amigos de chocolate, que eram muito melhores que ele. Mas ele não tinha o que fazer: ele era só um M&M. E nada podia fazer também sobre seus plagiadores: Confetis, etc... Ele era só um M&M. De amendoim.